Como quase todo mundo o meu primeiro contato com a Troika Games foi Vampire: The Masquerade. A Troika foi o esforço de três grandes nomes da indústria de jogos eletrônicos, Jason Anderson, Tim Cain e Leonard Boyarsky, ela lançaria três grandes jogos, Vampire, Temple of Elemental Evil e o citado Arcanum cada um deles com fãs e comunidades até os dias de hoje. Informações de Wikipédia, enfim, eu sou um exumador de jogos e uma hora me depararia com Arcanum.
E eu adorei. Absolutamente me vi fascinado por este pequeno, indie, obscuro mundo de fantasia e tecnologia em permanente conflito. Temos magia negra e velhas profecias, burguesia e proletário, subdesenvolvimento, racismo científico e a morte de culturas e povos. Profetas e messias. A magia e a tecnologia podem se comunicar em certas medidas, mas colidem eventualmente. Em termos mecânicos dentro do jogo e no cenário um personagem que se aprofunde no poder mágico ou poder técnico se tornará uma bomba de contradição contra o outro, objetos podem explodir, a realidade se torna instável. Um desenho muito inteligência de como você pode equilibrar a construção de personagens e lhe dar caráter. As distinções culturais e raciais, objetivamente raciais, elas se tornam dramáticas num cenário modernista fantástico. Orcs e ogros destituídos de seus ambiente naturais se tornam trabalhadores explorados em fábricas e favelas. Os elfos se tornam isolacionistas ou com seus talentos inatos alpinistas sociais. Gnomos e halflings aplicam seus engenhos na construção de corporações industrais. Anões, sempre e tradicionalmente engenheiros de mundos de fantasia, eles se vêem em conflito entre seu tradicional imobilismo e o aumento ininterrupto da complexidade industrial de uma modernidade nascente. Os humanos são a média de tudo. Tudo lá pronto para qualquer um disposto a se permitir uma bela experiência de RPG das antigas.
Uma coisa ficou comigo, uma coisa que muito se fala e muito se cita e não vemos uma implementação adequada muitas vezes que é a rivalidade - quiçá ontológica - de magia e tecnologia. Chamamos de tecnologia tudo que nos permite a reprodutividade técnica, chamamos de magia tudo que nos permite a significação de fenômenos acausais simpáticos. A magia é o que não é tecnologia. A magia tem procedimentos e a tecnologia suas significações, tecnologia pressupõe conhecimentos pré-estabelecidos e a magia exige experiência, aproximam-se, combinados estão separados, juntos e com resultados iguais dizem algo diferente. Sim, claro, um mago num mundo fantástico pode ser um atirador e um engenheiro pode convocar um elemental da terra, mas são duas linguagens em conflito. Um arquimago que pode tocar a realidade com a ponta dos dedos e um grande cientista que fundamenta suas realizações na mais preditiva natureza eles são oponentes fundamentais. Conceitos fascinantes eu diria. E não estou dizendo nada novo aqui são apenas ideias que parecem simples demais para valerem a escrita, ideias que eu gosto de valer a escrita.
Ainda temos magia em nosso mundo tecnológico. Ela se espreme por cada lacuna. Do medo do fundo da mente ao que resta não automatizado. Ele está em nossos jogos e está em nossos sonhos políticos. Nossos saltos de fé. Estava lá no começo dos anos 2000 e no florescer da era industrial e está aqui agora. Uma lição que tiro é que eu estou bastante interessado em sistemas e jogos que explorem melhor esse antagonismo antigo como o mundo. E, talvez mais importante, gostei do meu tempo com o jogo.